Tribuna do Javel®.
( P.V / R / H / R.P 1/2 / 045-2019 ),
Registro para 12/05/2019 em minha linha do tempo, DIA DAS MÃES,
Minha Mãe foi a Sétima ( na ordem ) de uma família de 8 irmãos que foi embora, todos italianos fortes e até então saudáveis, com exceção de um tio que teve um acidente, quase todos tiveram a vida interrompida pelo " desconhecido ", pelo Câncer, e temos hoje uma tia, a considerada pelos meus avós segundo minha mãe, a mais " fraquinha ", a mais " fragilzinha " de todos, está conosco, firme e forte e sempre dando força, alicerçando os demais familiares, nós, em nossas trajetórias, em nossas perdas.
Após ter perdido 5 irmãos, minha mãe simplesmente " desacreditou " da medicina e da ciência, só não desacreditou mesmo de Deus. este que a amparou e a fez suportar todas as suas perdas, segundo ela própria.
Mesmo depois de todas estas perdas e de todo exemplo que minha mãe havia tido em relação ao histórico familiar ela sempre " teimou " com nós aqui de casa, com seus familiares, a respeito de ir ou não ao médico para saber do que se tratava um " carocinho " que ela sentia já há uns quase 20 anos no seio esquerdo e que sempre se recusou em mostrar para os médicos, mesmo com toda a insistência nossa, aqui de casa, demais familiares que sabiam, inclusive de amigos íntimos dela, aqui retratados por " vizinhas ".
A medicina da época não era nada apurada segundo ela, e até certo ponto ela tinha toda a razão, afinal tinha perdido quase que a família toda para o " desconhecido ", pelo menos até então, desconhecido.
Teimamos muito, teimamos mais que ela para que ela procurasse tratamento, ou devido ao atraso da medicina na época, a sua própria condenação, teimamos, teimamos, teimamos, em vão! Ela tinha medo e acabamos por respeitar o sentimento de medo da nossa mãe.
Meio de 2005, o " carocinho " continuava lá depois de quase 20 anos, mas, apareceram dores, uma dor na perna na perna direita se tornava insuportável e fez com que todos nós notássemos sua presença durante a madrugada na cozinha, sentada, abraçada à perna e chorando.
Como eu dormia no quarto ao lado, foram dezenas de noites que ficamos acordados, no escuro, ela gemendo de dor e eu consolando e massageando para tentar aliviar.
Mas, aquilo não era justo, aquela dor estava judiando demais da nossa mãe e de nós que a víamos chorar, como dói ver uma mãe chorar, principalmente quando essa mãe, é a sua...
Na manhã seguinte de uma noite " tortuosa " decidimos por unanimidade, exceto ela é claro, que, ela iria sim procurar um médico, e, a contra gosto dela, conseguimos " rebocá-la " até o nosso clínico geral de confiança que, ouvindo sobre os sintomas e até sabendo já o que estava acontecendo devido ao histórico e as conversas frequentes com um de nós, a encaminhou para um exame mais detalhado.
Adivinha quem foi com ela no exame? Eu! O mais medroso do mundo em se tratando de sequer pensar um dia perder alguém. Mas, Deus haveria de estar do nosso lado e tudo acabaria por não passar de um " mal entendido ".
O médico começou as análises por imagem e o semblante dele que não me era estranho estava mudado, mais sério que o habitual, enquanto ela se recusava a mostrar o seio, afinal ela teria ido lá devido a uma dor na perna, ele foi categórico e mais teimoso que ela. Examinou o seio, constatou o " caroço " e foi além, passou pelo fígado, e foi nessa hora que veio o susto e o choque com a realidade que se acendia logo ali adiante, quando o médico das imagens, aproveitando uma virada dela de lado me deu um sinal para que eu olhasse no monitor de perto do teto e lá escreveu assim: " é grave ", circulou cada manchinha do fígado e escreveu assim: " são nódulos ", " risco de morte " , ela não sabia de nada ainda e ele pediu que ela se vestisse no trocador.
E, sem " tapinhas nas costas " me deu o veredito: " Sua mãe está com câncer, é grave e vocês vão ter que correr contra o tempo de hora em diante ". Perdi as pernas mas senti certo alívio quando ele me passou a mão na cabeça e me abraçou com carinho, e emocionado, com lágrimas nos olhos por saber que aquele rapaz pálido e trêmulo teria que noticiar o veredito aos demais familiares. Perdia as pernas mas Deus estava ali para me acudir antes que ela voltasse do trocador.
Nos despedimos, ela me olhava com um misto de desconfiança e positivismo, enquanto dentro de mim nascia o maior sentimento de ódio que eu já tinha experimentado, ódio de mim, ódio de todos que não conseguiram driblar a teimosia dela e ódio dela, muito ódio dela, como se ela fosse a culpada maior, ou, a culpada sozinha do mal que a acometia. Que sensação terrível, mas é fato, eu odiei por alguns minutos o maior amor da minha vida.
Deixei ela em casa, e fui ao escritório do meu pai, onde ele e minha esposa esperavam ansiosos, minha esposa em frente a Nossa Senhora e meu pai com seu Santo Expedito nas mãos, como era de costume dele todos os dias.
O ódio que me dominou, misturou-se com a dor que eu sentia e fez com que chorando alto eu metralhasse contra todos: " A mãe está com câncer, a nossa mãe vai morrer... ".
Juntos nos abraçamos e choramos durante algum tempo, meu " ódio " havia encontrado um colo, tentamos serenar e fomos para casa encontrá-la e dar a notícia.
Por mais incrível que pareça, ele se manteve sereníssima, claro, ela já sabia da sua " condenação " há muitos anos, enquanto nós, apenas imaginávamos, ou desconfiávamos...
Curitiba era o destino dali em diante, a medicina daqui só constata, a luta é lá fora, fora de casa, fora do ninho em que vivemos juntos e sempre...
Através de alguns amigos, aqui ilustrados pela D.Albani, conseguimos tratamento e apoio, força e coragem, enquanto eu e minha esposa administrávamos a vida em Caçador para o " barco não parar ", minha heroína, minha mãe e meu guerreiro, meu pai, iam e vinham com o ônibus da Reunidas que todo dia encontro no mesmo horário e me faz arrepiar de dor, diariamente, principalmente nos Domingos.
A expectativa do médico especialista: " Ela tem de 6 meses a 2 anos de vida ", essa é a verdade que você pai e você mãe, vão passar a seus filhos e queridos. Mas, não esqueçam que fé, é a base de tudo...".
A luta começava entre quimioterapias, radioterapias, idas e vindas, choros nas idas, risos nas vindas, era aquele " riso para não chorar " pois víamos dioturnamente que nossa mãezinha se apagava a olhos vivos a cada dia.
Mas a luta não tinha " trégua ", eram meus pais lá, enfrentando o desconhecido e nós aqui, dando o máximo para que o escritório não parasse, se isso acontecesse nessa altura, o fim poderia ser mais trágico, poderia ser coletivo.
Enquanto ela se desgastava fisicamente, o nosso psicológico morria dia a dia, mas ambos persistimos e como dizia meu pai: " pau na mula "...
Restava a eles a luta no corpo a corpo contra o desconhecido e a nós as orações e o cuidado com os pequenos que ainda mais pequenos quase não entendiam, apenas choravam conosco quando nos " flagravam " chorando.
Tivemos muitas participações importantes nessa luta, seria impossível descrever todas elas, inclusive quando meu pai " tastaveava " e tinha que substabelecer a viagem a alguém, anjos apareceram na nossa vida, entre eles, os principais, meu tio Jairo e minha tia Mara ( esta anjo do ceú... ), minha tia Jussara ( sem comentários ), minha ( irmã do coração que conheci no centro espírita que trabalhei ) a Letícia e minha vizinha Alaíde ( um anjo da guarda da minha rua... ), ambos que nunca mediram esforços para nos ajudar na triste ocasião.
Mas, o fim estava próximo, e, em sua última viagem para Curitiba meu pai precisou de mim lá, não tive coragem, mas com a força da minha esposa fui, cheguei lá mais morto que vivo porque não durmo em ônibus e já não dormia a algum tempo... falei com meu pai que me levou falar com o médico conhecido como " o papa " dos médicos que faria, ou não, uma cirurgia em minha mãe, pois decorridos 2 anos, o maldito, o câncer, tinha alcançado o cérebro...
Mais desespero, só que a vida já nos tinha " surrado " tanto que estávamos " anestesiados " quando o médico disse: " Javel, leva sua mãe para casa, a chance dela voltar dessa cirurgia é de 1%... e se for assim, que ela morra em casa, na casa dela que ela tanto ama...", e acreditem. " o papa " dos médicos, chorou!
Com cuidado demos mais esta notícia para minha mãe que respondeu: " Já me furaram tanto, eu já sofri tanto, que um furo a mais na cabeça para mim é nada... mas só farei essa cirurgia depois de ouvir a opinião de 3 pessoas, as pessoas que mais confio nessa vida, Dr. João Gomes, nosso médico, Ladir, do Centro Espírita e do Seu Baiano, nosso benzedor de confiança...".
Voltamos, ela muito fraquinha, a vida fugindo as pressas de nossas mãos, a viagem foi uma tormenta, tanto pelas circunstâncias quanto pelo tempo que não colaborou, estrada ruim de Curitiba para cá na época, em certa altura me distraí enquanto dirigia e ajudava minha mãe não sofrer dor no banco carona e quase entramos debaixo de uma carreta, confesso que pensei que esta poderia ter sido a melhor solução para minha mãe, meu pai, eu e minha esposa. Mas, 1 segundo a diante me vieram na cabeça minha filha e meu irmão ( Down ) e me pus a agradecer, o resto da viagem por termos escapado...
Chegamos da última viagem e minha tia Lucinda, a única que nos resta dos irmãos Refosco mais nossos pequenos, esperavam ansiosos por nós, graças a Deus, chegamos.
Corri falar com as 3 pessoas que minha mãe tinha me pedido enquanto ainda estava consciente, sim, ela estava entrando em estado inconsciente quando eu já tinha a resposta dos 3, que por unanimidade, seguros como eles só, afirmaram: " Ela não deve fazer essa cirurgia, ela não vai voltar...".
Jantamos com ela ainda conversando, como se tivesse voltado de qualquer outra viagem para Curitiba, bem mais cansada e abatida é claro, mas esta noite a conversa não " varou " a madrugada, ele quis se deitar as 9, ela acabara de entrar em estado febril e de inconsciência pelos próximos 3 piores dias de nossas vidas.
Inconsciente, cuidando dela na madrugada pedi que me fizesse carinho no rosto e que abençoasse uma pulseira que ela me deu quando foi pedir ajuda à Madre Paulina, e pode parecer mentira, eu segurei o braço dela próximo ao meu rosto e ela moveu sua mão em meu rosto, era para mim a reta final. O meu último carinho de mãe!
Última noite, sai para descansar as 3 da manhã, troquei vigília com minha esposa que assumiria dali em diante. Pela primeira vez nos 3 dias, sai do quarto 3 vezes, eu dava tchau a ela que só escutava e acabava voltando, alguma coisa estava perto de acontecer... me despedi 3 vezes prometendo voltar logo cedinho, na terceira sai e encontrei meu pai próximo ao meu quarto e juntos, após conversarmos sobre a situação, olhamos para o céu e pedimos de mão dadas, que Deus levasse naquela noite a nossa mãezinha, nem nós, muito menos ela merecia estar passando por tamanho sofrimento, nos abraçamos e fui para meu quarto, e tomado pela força da oração dormi um sono profundo.
Meu pai, o maior guerreiro que este mundo já conheceu, recostou do lado da minha mãe, e minha esposa do outro.
Quatro horas e meia depois, ás 7:30 da manhã, meu anjo, minha tia Lucinda veio ao meu quarto e disse: " Javel, acorda que chegou nossa hora...", foi incrível, eu já havia sonhado e respondi a ela com um sorriso: " Eu sei tia, a mãe morreu..." e ela com a cabeça concordou.
Todos juntos, do ladinho do corpo da minha mãe, enquanto seu espírito era recolhido pelos superiores, chorávamos de dor e agradecíamos a Deus, por ter terminado com o sofrimento da PESSOA MAIS IMPORTANTE DE NOSSAS VIDAS, A NOSSA MÃE...!
Relatei esta história para tentar mostrar o que uma MÃE faz, o caminho de dor que uma MÃE é capaz de percorrer para manter em pé a sua família, ela, a nossa MÃE, foi a maior HEROÍNA que conhecemos em nossas existências, bem como meu PAI o maior GUERREIRO do mundo.
Enfim, " Perdemos uma batalha, mas não perdemos a guerra...".
Mesmo longo, como todos os meus textos, procurei resumir ao máximo ou escreveria outra vez um livro devido a complexidade desta história sobre a minha FADA, o sofrimento dela foi tão grande, tão grande que nos ensinou uma nova forma de ver a vida, nos ensinou a perder, nos mostrou que é possível, que existe a possibilidade de orar a Deus pedindo para que ele leve a pessoa que você MAIS AMA NO MUNDO, eu até então não acreditava que isso fosse possível, tampouco que eu conseguiria suportar a perda de minha MÃE, mas DEUS é tão perfeito em cada toque que segurou a mim e a todos os meus, em seu colo.
Essa parte resolvi editar, escrevi agora, no Domingo, daqueles que já não é mais de " mesa cheia ", de " mesa completa " em minha casa, mas mesmo assim, somos e estamos felizes pois sentimos a presença DELA. A presença deles, aqui entre nós é constantemente nítida...
Eu esqueci ontem de contar sobre um apoio muito importante que tive no decorrer de todo esse trajeto de espinhos e dor da minha família, ZÍBIA GASPARETTO é o nome dela, que através de seus 45 livros que devorei, li e re-li todos ao longo desses dois anos e afirmo, sem eles eu não sei mesmo se EU teria dado conta de suportar a perda da minha MÃE!
Quero também ratificar aqui as vezes que usei o termo " ódio ", substituí-lo, para maior entendimento de quem ler, pelo termo " revolta ", mesmo sabendo que vocês entenderam...
Deixo aqui o meu CARINHO e meu AMOR à MINHA MÃE e aproveito para felicitar a TODAS AS MÃES GUERREIRAS desta rede, destacando a importância ímpar de cada uma de vocês.
FELIZES SÃO OS FILHOS QUE HOJE VÃO ABRAÇAR E BEIJAR SUAS MÃES...!
" Mãe é um ser tão especial que até DEUS quis ter uma...".
FELIZ DIA DAS MÃES a todas, EM ESPECIAL, a mais linda de todas elas, A MINHA, que não mora mais aqui, mas que lá do céu, me inspira, me guia e acompanha aqui do meu lado, em espírito, na forma de anjo da guarda, cada toque verdadeiro que dei até agora no teclado do meu computador.
COM AMOR À MINHA MÃE e DE CORAÇÃO A TODAS OUTRAS...!
Javel,
QUANDO DEUS ESCOLHEU A MINHA MÃE!.
( P.V / R / H / R.P 1/2 / 045-2019 ),
Registro para 12/05/2019 em minha linha do tempo, DIA DAS MÃES,
Minha Mãe foi a Sétima ( na ordem ) de uma família de 8 irmãos que foi embora, todos italianos fortes e até então saudáveis, com exceção de um tio que teve um acidente, quase todos tiveram a vida interrompida pelo " desconhecido ", pelo Câncer, e temos hoje uma tia, a considerada pelos meus avós segundo minha mãe, a mais " fraquinha ", a mais " fragilzinha " de todos, está conosco, firme e forte e sempre dando força, alicerçando os demais familiares, nós, em nossas trajetórias, em nossas perdas.
Após ter perdido 5 irmãos, minha mãe simplesmente " desacreditou " da medicina e da ciência, só não desacreditou mesmo de Deus. este que a amparou e a fez suportar todas as suas perdas, segundo ela própria.
Mesmo depois de todas estas perdas e de todo exemplo que minha mãe havia tido em relação ao histórico familiar ela sempre " teimou " com nós aqui de casa, com seus familiares, a respeito de ir ou não ao médico para saber do que se tratava um " carocinho " que ela sentia já há uns quase 20 anos no seio esquerdo e que sempre se recusou em mostrar para os médicos, mesmo com toda a insistência nossa, aqui de casa, demais familiares que sabiam, inclusive de amigos íntimos dela, aqui retratados por " vizinhas ".
A medicina da época não era nada apurada segundo ela, e até certo ponto ela tinha toda a razão, afinal tinha perdido quase que a família toda para o " desconhecido ", pelo menos até então, desconhecido.
Teimamos muito, teimamos mais que ela para que ela procurasse tratamento, ou devido ao atraso da medicina na época, a sua própria condenação, teimamos, teimamos, teimamos, em vão! Ela tinha medo e acabamos por respeitar o sentimento de medo da nossa mãe.
Meio de 2005, o " carocinho " continuava lá depois de quase 20 anos, mas, apareceram dores, uma dor na perna na perna direita se tornava insuportável e fez com que todos nós notássemos sua presença durante a madrugada na cozinha, sentada, abraçada à perna e chorando.
Como eu dormia no quarto ao lado, foram dezenas de noites que ficamos acordados, no escuro, ela gemendo de dor e eu consolando e massageando para tentar aliviar.
Mas, aquilo não era justo, aquela dor estava judiando demais da nossa mãe e de nós que a víamos chorar, como dói ver uma mãe chorar, principalmente quando essa mãe, é a sua...
Na manhã seguinte de uma noite " tortuosa " decidimos por unanimidade, exceto ela é claro, que, ela iria sim procurar um médico, e, a contra gosto dela, conseguimos " rebocá-la " até o nosso clínico geral de confiança que, ouvindo sobre os sintomas e até sabendo já o que estava acontecendo devido ao histórico e as conversas frequentes com um de nós, a encaminhou para um exame mais detalhado.
Adivinha quem foi com ela no exame? Eu! O mais medroso do mundo em se tratando de sequer pensar um dia perder alguém. Mas, Deus haveria de estar do nosso lado e tudo acabaria por não passar de um " mal entendido ".
O médico começou as análises por imagem e o semblante dele que não me era estranho estava mudado, mais sério que o habitual, enquanto ela se recusava a mostrar o seio, afinal ela teria ido lá devido a uma dor na perna, ele foi categórico e mais teimoso que ela. Examinou o seio, constatou o " caroço " e foi além, passou pelo fígado, e foi nessa hora que veio o susto e o choque com a realidade que se acendia logo ali adiante, quando o médico das imagens, aproveitando uma virada dela de lado me deu um sinal para que eu olhasse no monitor de perto do teto e lá escreveu assim: " é grave ", circulou cada manchinha do fígado e escreveu assim: " são nódulos ", " risco de morte " , ela não sabia de nada ainda e ele pediu que ela se vestisse no trocador.
E, sem " tapinhas nas costas " me deu o veredito: " Sua mãe está com câncer, é grave e vocês vão ter que correr contra o tempo de hora em diante ". Perdi as pernas mas senti certo alívio quando ele me passou a mão na cabeça e me abraçou com carinho, e emocionado, com lágrimas nos olhos por saber que aquele rapaz pálido e trêmulo teria que noticiar o veredito aos demais familiares. Perdia as pernas mas Deus estava ali para me acudir antes que ela voltasse do trocador.
Nos despedimos, ela me olhava com um misto de desconfiança e positivismo, enquanto dentro de mim nascia o maior sentimento de ódio que eu já tinha experimentado, ódio de mim, ódio de todos que não conseguiram driblar a teimosia dela e ódio dela, muito ódio dela, como se ela fosse a culpada maior, ou, a culpada sozinha do mal que a acometia. Que sensação terrível, mas é fato, eu odiei por alguns minutos o maior amor da minha vida.
Deixei ela em casa, e fui ao escritório do meu pai, onde ele e minha esposa esperavam ansiosos, minha esposa em frente a Nossa Senhora e meu pai com seu Santo Expedito nas mãos, como era de costume dele todos os dias.
O ódio que me dominou, misturou-se com a dor que eu sentia e fez com que chorando alto eu metralhasse contra todos: " A mãe está com câncer, a nossa mãe vai morrer... ".
Juntos nos abraçamos e choramos durante algum tempo, meu " ódio " havia encontrado um colo, tentamos serenar e fomos para casa encontrá-la e dar a notícia.
Por mais incrível que pareça, ele se manteve sereníssima, claro, ela já sabia da sua " condenação " há muitos anos, enquanto nós, apenas imaginávamos, ou desconfiávamos...
Curitiba era o destino dali em diante, a medicina daqui só constata, a luta é lá fora, fora de casa, fora do ninho em que vivemos juntos e sempre...
Através de alguns amigos, aqui ilustrados pela D.Albani, conseguimos tratamento e apoio, força e coragem, enquanto eu e minha esposa administrávamos a vida em Caçador para o " barco não parar ", minha heroína, minha mãe e meu guerreiro, meu pai, iam e vinham com o ônibus da Reunidas que todo dia encontro no mesmo horário e me faz arrepiar de dor, diariamente, principalmente nos Domingos.
A expectativa do médico especialista: " Ela tem de 6 meses a 2 anos de vida ", essa é a verdade que você pai e você mãe, vão passar a seus filhos e queridos. Mas, não esqueçam que fé, é a base de tudo...".
A luta começava entre quimioterapias, radioterapias, idas e vindas, choros nas idas, risos nas vindas, era aquele " riso para não chorar " pois víamos dioturnamente que nossa mãezinha se apagava a olhos vivos a cada dia.
Mas a luta não tinha " trégua ", eram meus pais lá, enfrentando o desconhecido e nós aqui, dando o máximo para que o escritório não parasse, se isso acontecesse nessa altura, o fim poderia ser mais trágico, poderia ser coletivo.
Enquanto ela se desgastava fisicamente, o nosso psicológico morria dia a dia, mas ambos persistimos e como dizia meu pai: " pau na mula "...
Restava a eles a luta no corpo a corpo contra o desconhecido e a nós as orações e o cuidado com os pequenos que ainda mais pequenos quase não entendiam, apenas choravam conosco quando nos " flagravam " chorando.
Tivemos muitas participações importantes nessa luta, seria impossível descrever todas elas, inclusive quando meu pai " tastaveava " e tinha que substabelecer a viagem a alguém, anjos apareceram na nossa vida, entre eles, os principais, meu tio Jairo e minha tia Mara ( esta anjo do ceú... ), minha tia Jussara ( sem comentários ), minha ( irmã do coração que conheci no centro espírita que trabalhei ) a Letícia e minha vizinha Alaíde ( um anjo da guarda da minha rua... ), ambos que nunca mediram esforços para nos ajudar na triste ocasião.
Mas, o fim estava próximo, e, em sua última viagem para Curitiba meu pai precisou de mim lá, não tive coragem, mas com a força da minha esposa fui, cheguei lá mais morto que vivo porque não durmo em ônibus e já não dormia a algum tempo... falei com meu pai que me levou falar com o médico conhecido como " o papa " dos médicos que faria, ou não, uma cirurgia em minha mãe, pois decorridos 2 anos, o maldito, o câncer, tinha alcançado o cérebro...
Mais desespero, só que a vida já nos tinha " surrado " tanto que estávamos " anestesiados " quando o médico disse: " Javel, leva sua mãe para casa, a chance dela voltar dessa cirurgia é de 1%... e se for assim, que ela morra em casa, na casa dela que ela tanto ama...", e acreditem. " o papa " dos médicos, chorou!
Com cuidado demos mais esta notícia para minha mãe que respondeu: " Já me furaram tanto, eu já sofri tanto, que um furo a mais na cabeça para mim é nada... mas só farei essa cirurgia depois de ouvir a opinião de 3 pessoas, as pessoas que mais confio nessa vida, Dr. João Gomes, nosso médico, Ladir, do Centro Espírita e do Seu Baiano, nosso benzedor de confiança...".
Voltamos, ela muito fraquinha, a vida fugindo as pressas de nossas mãos, a viagem foi uma tormenta, tanto pelas circunstâncias quanto pelo tempo que não colaborou, estrada ruim de Curitiba para cá na época, em certa altura me distraí enquanto dirigia e ajudava minha mãe não sofrer dor no banco carona e quase entramos debaixo de uma carreta, confesso que pensei que esta poderia ter sido a melhor solução para minha mãe, meu pai, eu e minha esposa. Mas, 1 segundo a diante me vieram na cabeça minha filha e meu irmão ( Down ) e me pus a agradecer, o resto da viagem por termos escapado...
Chegamos da última viagem e minha tia Lucinda, a única que nos resta dos irmãos Refosco mais nossos pequenos, esperavam ansiosos por nós, graças a Deus, chegamos.
Corri falar com as 3 pessoas que minha mãe tinha me pedido enquanto ainda estava consciente, sim, ela estava entrando em estado inconsciente quando eu já tinha a resposta dos 3, que por unanimidade, seguros como eles só, afirmaram: " Ela não deve fazer essa cirurgia, ela não vai voltar...".
Jantamos com ela ainda conversando, como se tivesse voltado de qualquer outra viagem para Curitiba, bem mais cansada e abatida é claro, mas esta noite a conversa não " varou " a madrugada, ele quis se deitar as 9, ela acabara de entrar em estado febril e de inconsciência pelos próximos 3 piores dias de nossas vidas.
Inconsciente, cuidando dela na madrugada pedi que me fizesse carinho no rosto e que abençoasse uma pulseira que ela me deu quando foi pedir ajuda à Madre Paulina, e pode parecer mentira, eu segurei o braço dela próximo ao meu rosto e ela moveu sua mão em meu rosto, era para mim a reta final. O meu último carinho de mãe!
Última noite, sai para descansar as 3 da manhã, troquei vigília com minha esposa que assumiria dali em diante. Pela primeira vez nos 3 dias, sai do quarto 3 vezes, eu dava tchau a ela que só escutava e acabava voltando, alguma coisa estava perto de acontecer... me despedi 3 vezes prometendo voltar logo cedinho, na terceira sai e encontrei meu pai próximo ao meu quarto e juntos, após conversarmos sobre a situação, olhamos para o céu e pedimos de mão dadas, que Deus levasse naquela noite a nossa mãezinha, nem nós, muito menos ela merecia estar passando por tamanho sofrimento, nos abraçamos e fui para meu quarto, e tomado pela força da oração dormi um sono profundo.
Meu pai, o maior guerreiro que este mundo já conheceu, recostou do lado da minha mãe, e minha esposa do outro.
Quatro horas e meia depois, ás 7:30 da manhã, meu anjo, minha tia Lucinda veio ao meu quarto e disse: " Javel, acorda que chegou nossa hora...", foi incrível, eu já havia sonhado e respondi a ela com um sorriso: " Eu sei tia, a mãe morreu..." e ela com a cabeça concordou.
Todos juntos, do ladinho do corpo da minha mãe, enquanto seu espírito era recolhido pelos superiores, chorávamos de dor e agradecíamos a Deus, por ter terminado com o sofrimento da PESSOA MAIS IMPORTANTE DE NOSSAS VIDAS, A NOSSA MÃE...!
Relatei esta história para tentar mostrar o que uma MÃE faz, o caminho de dor que uma MÃE é capaz de percorrer para manter em pé a sua família, ela, a nossa MÃE, foi a maior HEROÍNA que conhecemos em nossas existências, bem como meu PAI o maior GUERREIRO do mundo.
Enfim, " Perdemos uma batalha, mas não perdemos a guerra...".
Mesmo longo, como todos os meus textos, procurei resumir ao máximo ou escreveria outra vez um livro devido a complexidade desta história sobre a minha FADA, o sofrimento dela foi tão grande, tão grande que nos ensinou uma nova forma de ver a vida, nos ensinou a perder, nos mostrou que é possível, que existe a possibilidade de orar a Deus pedindo para que ele leve a pessoa que você MAIS AMA NO MUNDO, eu até então não acreditava que isso fosse possível, tampouco que eu conseguiria suportar a perda de minha MÃE, mas DEUS é tão perfeito em cada toque que segurou a mim e a todos os meus, em seu colo.
Essa parte resolvi editar, escrevi agora, no Domingo, daqueles que já não é mais de " mesa cheia ", de " mesa completa " em minha casa, mas mesmo assim, somos e estamos felizes pois sentimos a presença DELA. A presença deles, aqui entre nós é constantemente nítida...
Eu esqueci ontem de contar sobre um apoio muito importante que tive no decorrer de todo esse trajeto de espinhos e dor da minha família, ZÍBIA GASPARETTO é o nome dela, que através de seus 45 livros que devorei, li e re-li todos ao longo desses dois anos e afirmo, sem eles eu não sei mesmo se EU teria dado conta de suportar a perda da minha MÃE!
Quero também ratificar aqui as vezes que usei o termo " ódio ", substituí-lo, para maior entendimento de quem ler, pelo termo " revolta ", mesmo sabendo que vocês entenderam...
Deixo aqui o meu CARINHO e meu AMOR à MINHA MÃE e aproveito para felicitar a TODAS AS MÃES GUERREIRAS desta rede, destacando a importância ímpar de cada uma de vocês.
FELIZES SÃO OS FILHOS QUE HOJE VÃO ABRAÇAR E BEIJAR SUAS MÃES...!
" Mãe é um ser tão especial que até DEUS quis ter uma...".
FELIZ DIA DAS MÃES a todas, EM ESPECIAL, a mais linda de todas elas, A MINHA, que não mora mais aqui, mas que lá do céu, me inspira, me guia e acompanha aqui do meu lado, em espírito, na forma de anjo da guarda, cada toque verdadeiro que dei até agora no teclado do meu computador.
COM AMOR À MINHA MÃE e DE CORAÇÃO A TODAS OUTRAS...!
Javel,
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