domingo, 18 de março de 2018

MINHA CONSCIÊNCIA ESTÁ DE LUTO!


MINHA CONSCIÊNCIA ESTÁ DE LUTO!


( P.V / H / A.S / 158-2016 ),

Desde pequeno, me acompanha um medo terrível de cachorros, perco a ação e quaisquer reflexos, sinto arrepios na alma diante de um deles, de qualquer um deles.

E, mesmo só eu conhecendo, esse medo todo tem uma base sólida, quando eu era pequeno, tipo com 6 ou 7 anos de idade, estava com meus pais na casa de uma comadre deles, D. Landa era o nome dela, e enquanto eles conversavam na mesa do café da tarde em um Domingo, eu brincava lá fora enquanto o Teddy, concentradíssimo, roía um osso. E eu, sem saber do instinto do animal ( ou de metido mesmo ), fui lá e bah, puxei no rabo dele.

Neste exato momento, ele se virou rapidamente e me mordeu com vontade ( e com razão ) a perna direita, foi uma das dores físicas mais tristes que lembro ter sentido até hoje, mordeu forte, mordeu de verdade, mordeu com vontade, e com razão é claro.

Tudo isso deve ter sido resolvido na época no hospital, com curativos e vacinas ( também morro de medo de agulhas ), mas, não lembro para contar o desfecho e nem vim aqui para isso.

Ocorre que meu inconsciente registrou isso com tamanha intensidade, que nunca mais na vida, dos 6 ou 7 anos em diante e até hoje, nunca mais consegui " simpatizar " com nenhum deles, salvo agora, depois de adulto, uma ou outra exceção.

Pois bem, ao assunto, em meio a essas raras exceções, há alguns anos já, comecei a " vizinhar " com o Zulu, um pequeno cachorro de propriedade de um dos meus vizinhos. Vi ele, que era pra ser um cachorrinho pequeno crescer, surpreendeu até os donos e cresceu demais, ficou gigante, enorme ele.

Nunca morri de simpatias por ele, mas eu tenho um motivo e tentei descrever ali em cima, logo, o tempo foi passando e mesmo eu não conversando com ele ( ele se aproximava, eu demostrava medo e dizia " xispa " e ele " freava " na mesma hora.. ), parece que, mesmo sendo ele um " animal irracional ", entendia o meu medo e nunca se aproveitou dele, o respeito se tornou mútuo, e a vida seguiu, ele de lá, e eu de cá.

Cada vez que alguém da minha família tinha que fazer uma " corridinha extra " a pé e a noite para buscar um lanche ou um remédio nas proximidades, ou até em ocasião de ter tido que ir atender o alarme disparado do escritório, lá estava ele, chegando junto, protegendo sempre ( mais pelo tamanho do que pela brabeza, porque ele era o que eu chamava de um " meninão " ) principalmente a minha esposa, ou as chegadas de aula da minha filha, ou ainda, uma ou outra chegada pela madrugada de qualquer um de nós.

De um tempo pra cá, mesmo á distância ( ele lá e eu cá ) ganhou meu respeito por ser um cachorro que além de amigo e querido, era útil, sim, durante toda a noite ele " espantava " as capivaras que vêm " cagar " na minha grama, não tinha pra elas, o Zulu " colocou ordem na casa " e me provou de uma vez por todas a que veio, e eu o admirava também por isso ( em segredo ).

Mas, hoje tive meu final de semana estragado ao chegar do trabalho e ouvir da minha esposa a seguinte exclamação: " O nosso Zulu morreu ", demorou pra cair a ficha, ele era novo ( imagino 6 ou 7 anos ) e além de muito bem tratado pelos seus donos, era saudável até demais. Pulava quenem um " meninão " mesmo, era ágil quenem um gato, se jogava no rio para um banho quando sentia calor e voltava com a maior facilidade do mundo, na maioria das vezes entrava limpinho e saia imundo das águas do Rio do Peixe. A cuidadora ficava " pirada ", e a gente ria de tudo isso.

Então, na madrugada passada, o Zulu na sua " implicância extrema " com as capivaras ( tal qual eu assim, pois continua um CASO SEM SOLUÇÃO por parte dos responsáveis, ou irresponsáveis... ), supostamente se jogou sobre uma delas e a brincadeira ( sim, ele só brincava com elas ), infelizmente e fatalmente, não terminou bem dessa vez, o Zulu morreu.

Segundo minha esposa ( triste demais ) a tristeza tomou conta da rua, e de mim inclusive, que admirava ( de longe é claro ) o ânimo e a agilidade com que aquele " meninão " subia na pick-up para ir para o mato, ou, a " faceirice " dele quando ele descia de volta.

Tive hoje o meu final de semana estragado, pelo menos até então, por isso resolvi escrever agora para ver se melhoro depois disso ( geralmente é assim que acontece... ), sei lá se o que sinto é " peso na consciência " por nunca ter me aberto ao diálogo com ele, ou se, porque eu morria de admiração e carinho ( mesmo que ocultos ) pelo tal do Zulu.

Para concluir, eu e minha esposa jantávamos agora e lembrávamos do meu pai que nunca admitiu que tivéssemos em casa nem um tipo de animal de estimação, e não era porque ele não gostava de bichos, pelo contrário, nunca fez mal a uma mosca sequer, mas, por ser ele um sábio, um sábio que pensava assim:

" ter amizade com um animal e perdê-lo, é uma perda tão terrível quanto perder alguém da família, a dor é tão forte quanto a dor da perda de um ente querido, escutem o pai... ".

Enfim, hoje, depois desse exemplo claro, fica o registro da sapiência do meu velho e saudoso pai e minha homenagem, ainda triste ( e já com saudade ) por não ter me aberto antes com esta " exceção ", com ele, com o nobre Zulu.

E, sentindo um misto de " dor de consciência ", com carinho, admiração e gratidão ( por mim e pelos meus... ), dedico essa " meia horinha " a você, Zulu...!

" CHEGARÁ O DIA EM QUE TODO O HOMEM CONHECERÁ O ÍNTIMO DOS ANIMAIS. NESSE DIA, UM CRIME CONTRA UM ANIMAL SERÁ CONSIDERADO UM CRIME CONTRA A PRÓPRIA HUMANIDADE ". - Leonardo da Vinci.

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