sábado, 30 de maio de 2020

O QUE EU LEMBRO DA ENCHENTE DE 1983...!.

O QUE EU LEMBRO DA ENCHENTE DE 1983...!.

( P.V / R / A / A.S / R.P / E.E / 265-2017 ),

" A LIÇÃO QUE FICA... É QUE, PRIMEIRO LUGAR, ELA VAI VOLTAR...!.". - Alfieri Freiberger - Ex-comandante dos Bombeiros Voluntários de Caçador.

As enchentes já nos fizeram vivenciar fatos que não gostaríamos ter visto, que jamais gostaríamos que se repetissem e muito menos termos vivido, e eu também vivi isso em 1983, isso que permanece até hoje vivo em nossas memórias.

Há anos atrás, a 34 anos atrás, mais especificamente no dia 07 de Julho de 1983, sentimos na pele uma tragédia de proporção até hoje desigual, a população de Caçador passou por momentos de muita angustia, momentos estes que deixaram verdadeiros rastros de destruição e lembranças que nos abalaram psicologicamente, e que nos abalam até hoje só de relembrar, levou embora inúmeras coisas, e junto, a esperança de muitos, uma tragédia que aqui se instalou em pouco tempo, 3 ou 4 dias.

O estado de calamidade foi decretado quando o rio transbordou, levando bens materiais e sentimentais, pontes, pinguelas e casas, a chuva era constante, 12 horas de chuva grossa que mais parecia um filme de terror que rodava em câmera lenta, diversas localidades ficaram rapidamente alagadas, principalmente os que compreendiam as chamadas " áreas de risco " e nesta ocasião em especial, até fora delas.

Aproximadamente 153 casas desceram o Rio do Peixe, eu mesmo presenciei a queda de 3 que ficavam atrás da minha casa ou em frente ao então " chaminé " e que ao mesmo tempo em que desabavam, se contorciam assim como se fosse páginas de um livro se fechando, sem contar as famílias que foram para a casa de parentes e que não apareceram na contagem das estatísticas.

Nós sobrevivemos à enchente de 1983, há um pouco mais de três décadas, ficamos sem energia elétrica, sem água potável, sem alimentos, sem roupas ( sim, sem roupas... ) e quase ( quase... ) sem esperança...

Na ocasião em que perdíamos tudo, absolutamente tudo o que era erguido para cima de outras coisas ( mesas, guarda-roupas, sótão e etc... ) de conformidade com que o rio subia, e acabou subindo demais levando tudo, na minha casa mesmo só sobraram a casa propriamente dita, o Fusca 1965 do meu pai que foi tirado da garagem menos de um minuto antes da garagem desabar inteirinha, um fogão á lenha que teria sido tirado e colocado na rua de cima ( Hoje Ônio Pedrassani... ), a pasta do meu pai com documentos pessoais de todos aqui de casa, esta que também guardava a " beca " do meu pai pois ele faria um júri logo no início da próxima semana ( o Fórum ainda era na Avenida Barão do Rio Branco, em frente onde hoje é o Itaú... ).
E ele fez o júri logo na Segunda Feira subsequente, ainda em pânico, abatido, de " beca " e por baixo, de cueca, e com o mesmo par de sapatos com que havia enfrentado a fúria das águas imundas na tentativa de salvar alguma coisa, " noves fora " as vidas, em vão.

Essa situação poderia sim ser comparada com uma guerra, aliás, enfrentamos carência de tudo, do açúcar ao combustível, e até da própria solidariedade ( esta que fez o que pode... ), mas que certamente e mesmo assim não foi o suficiente.

A tristeza maior era ver ( eu vi da rua, deitado sobre uma porta de casa que havia caído e ao colo da minha mãe, grávida do meu irmão na época... ) as pessoas vendo tudo que conquistaram com o esforço e o suor do seu trabalho indo embora, e não era só os valor material que se perdia ali, era o valor sentimental de muitas coisas que não tem como se resgatar.

Essa semana, vendo a uma reportagem de um veículo de comunicação local ( diga-se de passagem, excelente reportagem e que me arrepia cada vez que é repostada devido á veracidade dos fatos narrados pelos " sobreviventes " da época... ) revivi mais uma vez momentos e lembranças tristes pelas quais passamos enquanto perdíamos tudo pela primeira vez, bem como toda uma " população ribeirinha ", na ocasião desorientada e perdida.

Usei o termo " primeira vez " quando me referi á perda pela enchente porque no decorrer da vida " perdemos tudo " outras duas vezes, voltando lá na " estaca zero ", uma na ocasião em que eu me envolveria com drogas ilícitas e a outra quando lutávamos por dois longos anos contra um câncer que acabou levando embora mais uma vez ( quase... ) tudo o que tínhamos e levando também a minha mãe, e para sempre.

Enfim, reconstruímos juntos todas essas perdas ao longo de nossas vidas, tivemos tempo para isso... bem, agora vou tentar voltar e me ater ao texto novamente...

O Rio do Peixe devastou tudo com muita fúria, uma verdadeira catástrofe que levou sonhos e trouxe o desespero de muitos que não esperavam, não sabiam ou não tinham para onde ir, e tampouco sabiam como iriam ( e se iriam... ) conseguir recomeçar.

Mesmo sendo na época bem pequeno, ainda lembro dos momentos de pura tensão e desespero enquanto os mais adultos rezavam enquanto víamos o rio subindo a cada minuto, ou a cada segundo, e isso jamais será apagado da memória de muitos.

As famílias simplesmente corriam contra o tempo enquanto lutavam com o até então desconhecido, e a emissora de rádio afirmava com todas as letras que " a previsão do tempo era de mais chuva " e isso nos preocupava ainda mais, e enquanto isso, a chuva e o rio arrastavam absolutamente tudo que vinha pela frente.

Pela primeira vez ( e única até então... ) as águas do Rio do Peixe chegaram a quase alcançar ( ou alcançar... ) a antiga Revistaria Livrolar, que fica para o lado de cima dos trilhos e numa distância ingrime e razoável, ou seja, além dos trilhos do trem o rio subiu ainda alguns 2 metros, ou seja, o rio subia avenida acima...

Tentando concluir, segundo dados de pesquisa, neste mesmo ano a chuva atingiu 135 cidades de Santa Catarina, deixando 198 mil desabrigados, aproximadamente 48 mortos e 32 dias de isolamento total, um verdadeiro estado de calamidade pública que deixou gravado para sempre na memória de muitos, os momentos de angústia e de aflição desta triste ocasião.

Alguns anos se passaram e novas enchentes vieram, nenhuma nunca chegou aos pés daquela terrível " Enchente de São Miguel " do fatídico ano de 1983, e meu pai, muito apegado com o lugar ( o melhor lugar da cidade segundo ele e eu... ) devido ( também... ) a laços familiares, tempos depois resolveu reconstruir exatamente no mesmo lugar, porém uma casa alta de dois pavimentos e com um " aterro " que quase cobria as proporções dos números da época e que ele costumava com toda convicção afirmar:

" Podemos até ter que enfrentá-la novamente, mesmo que na natureza, ou para a natureza não existe o impossível, mas nunca mais haveremos de enfrentar uma dessas, nessas proporções ( assim espero e baseado nisso fiz o projeto... ) pelo menos enquanto eu viver espero nunca mais ter que passar por isso...".

E de lá para cá, como já dito, outras vezes o rio ( ora dragado pela segunda vez pela feliz administração do prefeito em exercício... ) subiu, mas nunca mais chegou e agora com a dragagem nos restam duas expectativas sobre a possível enchente que andam " premunindo " por aí, a primeira delas a positividade na afirmação do meu pai em relação ao seu projeto e a segunda a recente dragagem do Rio do Peixe.

Não devo ter esquecido tanta coisa neste registro, mas posso garantir que muita coisa eu fiz questão de não lembrar aqui para não ter de reviver certas emoções, daquelas que acontecem apenas uma vez na vida ( assim espero... ) mas que traumatizam para o resto da vida e mais uns seis meses...

Enfim, esperamos nunca mais ver ( ou rever... ) a fúria da natureza devastando tudo, esperamos enquanto oramos para que nós os ribeirinhos consigamos ter paz, e que Deus ilumine, para que não aconteçam mais tragédias por aqui, pelo menos não tão cruel e deste porte...!

Tomo a liberdade de colar em minha página para acompanhar nosso texto a reportagem mais interessante e verdadeira acerca do assunto que já vi no decorrer de toda a minha vida, a quem interessar, segue o link:

http://noticiahoje.net/…/video-enchente-de-1983-tragedia-co…

" A LIÇÃO QUE FICA... É QUE, PRIMEIRO LUGAR, ELA VAI VOLTAR...!.". - Alfieri Freiberger - Ex comandante dos Bombeiros Voluntários de Caçador para a reportagem do site Notícia Hoje.

" QUE AS DIFICULDADES QUE EU ENFRENTEI AO LONGO DA JORNADA, NÃO ME ROUBEM A CAPACIDADE DE ENCANTO...!.". - Ana Jácomo.

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