quinta-feira, 14 de julho de 2016

UM MINUTO E MEIO NA MINHA PELE...!

UM MINUTO E MEIO NA MINHA PELE...!

Era minha casa, mas não era a minha casa, era uma casa chique demais e toda ela em vidro, com muitas decorações em branco e muito " digital " dentro dela, um verdadeiro sonho, lá tinha uma espécie de festa, que não era uma festa, mas parecia uma festa, e eu, fechado em meu mundo, ouvia através do player pedaços de músicas em um notebook.
Pela casa, que por mais que fosse a minha casa, não era a minha casa, desfilavam pessoas, e uma delas, mesmo eu não tendo reparado direito, sem dúvidas a mais linda delas era a minha " amante " ( escrevi ontem sobre elas, as amantes... ), detalhe: Nesta cena que descrevo pouco nos olhávamos, ela se preocupava mais em recepcionar, e eu, em ouvir músicas...
Mas, ela era linda, loira, excelência em seu vestido branco e longo...
Eis que de repente me chega uma pessoa, uma mulher, eu não via seu rosto ( bem como nenhum outro rosto até então... ) mas era amiga, e muito, mas muito delicada e simpática, e ela me diz com voz doce e até insinuante pelo que eu pude perceber:
- Javel, eu estou preocupada com você... ao que eu perguntei: - Porque?, E de leve sorri.
Ela respondeu: - Conheci hoje a pessoa ( supostamente uma psicóloga ) que vai cuidar do seu caso, que terá a difícil incumbência de fazer você esquecer a " x ", sua amante ( não lembro o nome ), em algumas sessões que serão marcadas dentro em breve...
Eu, esbocei um sorriso irônico, tímido e malandro, sem ao mesmo ter entendido direito o que ela queria me dizer, e ela continuou:
- Sabe qual foi a minha maior preocupação ao conhecê-la Javel?
Balancei a cabeça calmamente de lado ao outro, como a dizer não, e ela terminou:
- Quando a vi, tive a sensação de que você se envolverá com ela ( com a psicóloga ), sabe Javel, ela não é bonita, ela é " comum ", mas, têm um " charme diferente " das mulheres daqui...
Me escapou uma risada, uma gargalhada espontânea e resolvi tomar um ar lá fora, aliás, a noite, a madrugada enfim, estava muito linda ontem...
Enquanto eu pensava no que havia ouvido da minha " amiga " ( cheia de segundas intenções nos olhos... eu notei...! ), levava um cigarro à boca para acendê-lo, quando ouço um " oi " doce, mas doce mesmo..., respondi educadamente enquanto olhava para o lado e tirava o cigarro ainda apagado da boca.
Era uma moça, uma mulher pequena, morena, pele branca, cabelos " rabo de cavalo ", com bastante pintinhas leves no rosto, tipo " sardas " e com calca preta ( colada ) e moletom branco, roupa de física enfim, muito meiga e tímida.
Ela, pegou e apertou de leve minha mão e disse:
- Prazer Javel, eu sou " y " ( não lembro o nome ), eu cuidarei do " seu caso ". E me beijou timidamente e insegura no rosto.
Eu correspondi, mas, tomado por sei lá que " força ", levemente a abracei e adivinha, sim, nos beijamos demoradamente...!
A " profecia " que eu tinha ouvido minutos antes se concretizava...!
Enfim, ruborizada e com pressa ela deu um passo atrás, sorriu como se estivesse envergonhada, e correu, ela morava em frente à minha casa ( que não era minha casa ... ), ela morava no prédio em frente, no primeiro andar, em um apartamento todo de vidro e super iluminado, o único do prédio assim.
Eu, coração acelerado, olhei para o cigarro que estava em minhas mãos, ainda apagado e o joguei no gramado iluminado pela luz da lua grande sem mesmo ter tido tempo ou vontade de acendê-lo e, voltei para a " festa ", meio flutuando, estômago " borboletando ", pisando em nuvens... afinal, ela, era muito comum para ser tão perfeita!
De volta à " festa " que seguia animada, alguém lá percebeu que algo estava diferente comigo, a amiga. Mas eu, me mantive calado e foquei novamente no som do Roupa Nova que eu mudava de uma música a outra em meu notebook.
Passados alguns minutos ali tentando me distrair, o desejo e a curiosidade por aquele corpo trêmulo e comum, levou-me lá fora outra vez... rua vazia da noite mais linda, porém mais tensa.
Olhei para o primeiro andar daquele prédio, mais especificamente para aquele apartamento de vidro todo iluminado de branco, aff, eu vi ela, ainda em sua roupa de física, desta vez discutindo e entrando em vias de fato com um homem, o seu marido, ela era casada...!
Eu, via tudo mas não ouvia nada, e nada podia fazer diante das circunstâncias e até mesmo da distância que me impedia, a briga continuou por longos minutos, enquanto uma criança, imagino seu filho, já meio crescida e " autista ", tentava separá-los... sufoco!
Senti naquele momento um misto de dó ( da criança ) e outro de amor e ódio pela cena... o cigarro estava lá mais uma vez na minha mão, para ser aceso, mas não foi, foi ao chão outra vez, e eu, entrei novamente na minha casa, que não era minha casa, era a casa da minha " amante "...!
Chegando lá dentro, onde eu não via os rostos, alguém ( supostamente a minha amiga ) me deu um jornal, e nele tinha uma foto, ou melhor, duas, mas, não eram fotos, eram uma espécie de pequenos vídeos...
Na primeira foto ( ou vídeo ) me foi mostrado a briga, da mesma forma em que eu vi minutos antes lá da rua onde eu estava, assistia e suava.
Olhei aquilo e um ódio sem descrição tomou conta de mim, eu estava amando aquela estranha que supostamente ou futuramente seria a psicóloga que cuidaria de encontrar uma solução para o meu " caso " com minha " amante "...
Até, que, para minha surpresa e por que não dizer desespero, logo em seguida à primeira foto que não era foto, era vídeo, da briga daquela linda desconhecida trêmula com seu marido, me foi mostrado também ( e sei lá por quem, eu não via rostos ) uma segunda foto ( ou vídeo ) e que teria sido tirada ou gravada cerca de 30 minutos após a primeira, da briga.
O desespero foi total, tentei não demostrar mas o mundo explodiu dentro de mim, a foto ( ou vídeo ) me mostrava o marido dela, o carrasco, sentado e nu, com sua esposa, a psicóloga em seu colo, ela também nua, eles se amavam...!
Senti um ódio que não conhecia até então, como poderia ela amar aquele cara se o seu beijo dizia que sim, que ela seria minha... fechei os olhos e pensei comigo mesmo e sozinho: " Deus, eu não estou vivendo isso...!!!.".
Com o coração literalmente esmagado por alguém que eu sequer conhecia direito, rasguei e joguei os recortes ( vídeos ) enfurecido como nunca tinha ficado até então, levei minhas mãos nos cabelos como em um ato de desespero e, banhado em suor, mas suor mesmo... acordei, sim, era só um pesadelo...!
Mas, ficou o registro em mim, ficou a aula, tanto é que tentei transcrever, até porque eu nunca tinha sentido na própria pele como são doídas essas coisas de " coração "...!
" Quem um dia irá dizer que existe razão nas coisas feitas pelo coração? E quem irá dizer que não existe razão? ". - Renato Russo.

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