quinta-feira, 19 de janeiro de 2017

OS PRIMEIROS 50 ANINHOS DO MEU FUSCA.

OS PRIMEIROS 50 ANINHOS DO MEU FUSCA.

( minha homenagem ao dia do Fusca ),
Então, pode até parecer coincidência, mas não é, hoje é o aniversário do meu Fusca, também comemoramos com ele " bodas de ouro " e sobretudo hoje é o dia dele, ou deles, hoje é o Dia do Fusca.
Napoleão é o seu nome de batismo, foi um dos primeiros Fuscas da minha cidade e o primeiro carro " zero ", tirado da concessionária pelo meu saudoso pai, ou melhor, pelo irmão dele, o também saudoso meu tio " Turco " que, entre um que tinha 4 quilômetros preferiu o Napoleão, que tinha 2 quilômetros apenas. Contava meu pai que o outro " azulão " ( o que na ocasião tinha 4 quilômetros ) foi vendido para um amigo dele, um farmacêutico da época, mas que devido ao fato de ser uma carro compartilhado com funcionários se acabou em menos de 2 anos, se não me falha a memória, tombado.
O nome Napoleão veio mesmo da família, de certo também pelos anos terem se passado e ele ter continuado lá, velho, porém impondo respeito, nome forte esse, Napoleão.
Napoleão não viveu em tempos de asfaltos e essa modernidade toda não, tanto é que meu pai, junto com dois amigos, os melhores que ele mesmo considerava ( Imar e Nadir ), fizeram com o Napoleão ainda jovem e por dezenas ou centenas de vezes o trecho Caçador / Itajaí onde ambos cursavam faculdade de Direito, ainda em " estradas de chão ", eram horas " na boleia " enfrentando as variações do tempo ( com os vidros fechados para não entrar poeira ) até chegarem em seu destino e logo em seguida a volta, meu pai garantia:
" Nunca nos " deixou na mão ", nem sequer furou um só pneu ".
E olha que antes disso meu pai cursou Letras em Palmas no Paraná também por 5 anos, e só conseguiu seu primeiro intento, bem como o segundo, graças a ele, ao Napoleão.
Outros carros passaram pela nossa garagem, dezenas deles que conforme chegavam em seu " prazo de validade " eram substituídos por outro e assim consecutivamente, mas o Napoleão não, este parecia mesmo não ter " prazo de validade ", de certo e nem por acaso é conhecido e mundialmente como " batalhão rodoviário ".
Alguns anos se passaram e quem começou a fazer uso da nossa relíquia foi a minha também saudosa mãe, e é claro que ela sabia que todo cuidado com o Fusca era pouco, afinal, não era para um e nem para dois que meu pai falava quando era " propostiado " em relação ao Fusca:
" Veja bem, eu vendo a Lourdes e o Javel, mas o Fusca não, para esse não tem negócio.".
E olha que não faltaram boas propostas, só uma delas para exemplo: O valor equivalente ao de um Fiat Uno na época do seu lançamento, parece que esta proposta veio do Carlão, não lembro bem.
Os anos continuaram passando e devido a um acidente comigo e com meu carro, por obrigação, sim, por obrigação ( eu ainda jovem morria de vergonha de andar de Fusca ), mas, para não ter que andar a pé fiz uso dele por aproximadamente dois anos, claro que com toda a cautela que meu pai me " pregava " antes de cada saída. Mas, como ninguém dirige igual a ninguém e certamente meu pai dirigia muito melhor que eu, várias vezes em " visita à namorada " eu era obrigado a acordar o mecânico da " rua Curi... bah, esqueci o nome da rua..." ( ainda bem que tinha um mecânico por lá ) ás 3 ou 4 horas da manhã para " fazer pegar " o Fusca que havia decidido, e muitas vezes devido ao frio das madrugadas de Inverno a " não pegar ". Agora, verdade seja dita, a pé mesmo ele nunca me deixou.
Veio o período em que a mobilidade aliada á correria do dia a dia exigia um pouco mais de " velocidade ", e foi neste período em que o Napoleão ficou estacionado por longos 15 anos, em garagem coberta junto com mas 3 carros e uma moto, nos primeiros meses recebia uma " limpadinha " da minha mãe, as vezes do meu pai, mas ali, no " lugar nobre " da garagem ele repousou por largos anos, digamos assim, ele " parou de respirar ".
Meu pai nessa época usava a seguinte frase quando alguém via o Fusca na garagem e desferia alguma pergunta: " Meu Fusca tem 3 velocidades, devagar, mais devagar e parado. Geralmente ele está em terceira...".
Mesmo lá parado e escondido, Napoleão ainda " balançava corações ", e um desses corações foi o da minha esposa que dizia assim: " Esse Fusca é muito lindo e ainda vai ser meu ", e foi a um " pensamento alto " desses que meu pai ouviu e disse: " Assim que você terminar a sua faculdade de Direito, que era para ser do Javel ( que desperdiçou 3 oportunidades, sim, me arrependo...), eu vou dar o Fusca para você.".
Mais uma vez o tempo, ele passou, levou embora a minha mãe e em curtíssimo prazo de tempo levou embora também o meu pai, mas ele, o Napoleão, permaneceu lá e desta vez coberto das poeiras do tempo e para mim de saudades, recordações, lembranças e de uma dúvida: Teria eu, sido " projetado " lá dentro, nos bancos traseiros daquele Fusca? Pois é, é uma dúvida que nunca vou dirimir, mas que também pouco interessa, aliás, só a coloquei aqui para dar um pouco mais de ênfase ao texto.
( destreinado, em frente... )
E a Diane ( minha esposa ) concluiu seu curso, e mais uma vez " tentei " proceder da mesma forma que meu pai faria se ainda estivesse aqui, como tenho feito com tudo dele(s) que ficou sob a minha guarda ou responsabilidade ( esta tribuna no Facebook inclusive... ). Ela, a Diane só não ganhou o Fusca ainda, para que eu cumpra mais essa promessa do meu pai, pois ela ainda não conseguiu " driblar as pegadinhas do exame malandro da ordem ", e, enquanto isso, ele ficará sob a minha guarida.
Olha, não faltaram amigos para me incentivar a " trazer de volta á vida " e novamente o " aposentado Napoleão ", não foi fácil para eles, aqui exemplificados pelos amigos Juliano, Esmael e Anderson. Sabe, eu via o Fusca lá " morto " e não tinha coragem e nem " verba " para trazê-lo de volta á vida, parecia que eu não ia dar a volta por cima, que teria muita coisa a fazer, e foi em um esforço de 2 ( longos ) anos sem férias que consegui tomar mais esta iniciativa, sem pressa, afinal não sou mais aquele " jovem afobado " de outrora que queria " tudo para ontem " até porque antes quem " bancava " era o meu pai e queira ou não, agora sou eu que já tenho quase a idade do Napoleão.
Fiz, gastei, e detalhe, gastei muito menos do que eu tinha programado para gastar e muito menos que certos " aproveitadores " ( é o que mais tem por aqui ) diziam que eu gastaria.
Estava tudo muito mais fácil do que eu imaginava, em Seis meses de oficina ( mais dando a vez a outros carros e esperando a vinda das peças do que sendo trabalhado... ), fizemos o motor 1200 cujas peças são consideradas " moscas brancas ", logo, difíceis de conseguir, e para minha surpresa, um jogo de 5 pneus, uma lavação daquelas que só o meu amigo Pepp's e sua esposa sabem fazer e um polimento lá no Seu Valeri. Pronto, ali estava novamente toda a imponência do grande imperador de volta ás ruas.
Há quem diga ou pense que um Fusca é apenas um Fusca, e na bem da verdade eu nunca fui um exímio " fusqueiro ", prefiro ainda carros mais esportivos, como o meu por exemplo, mesmo com poucos cabelos na cabeça já...
Mas, a verdade é que um Fusca é um Fusca, só o Fusca e aqui exemplificado pelo meu Fusca é capaz de fazer coisas, só o meu Fusca é capaz de andar por qualquer tipo de estrada, seja ela de calçamento ou de " chão batido sem sequer ter um " grilinho " que te incomode os ouvidos, só o Fusca é capaz de fazer uma " procissão parar " para admirá-lo e consequentemente sentirem o " cheiro da gasolina ", só o Fusca se conserta de improviso com uma chave de fenda e uma meia de seda ( daquelas que as mulheres usam ), só um Fusca a 60 quilômetros por hora vai fazer você lá dentro tomar vento com os vidros fechados e ainda ouvir o " assoviozinho " do vento entrando pelo " quebra vento " mesmo este também esteja fechado, só um Fusca tem 3 " puta merdas ".
E mais, só o meu Fusca, o Napoleão, hoje denominado Mark em virtude de ter sobrevivido para a era do Facebook tem 99% de originalidade, tudo nele é original exceto os pneus, aliás, pretendo entregá-lo à minha esposa já com a " placa preta ", nem que isso demore ainda um pouquinho...
O segredo disso tudo eu posso contar, começou lá com o meu pai, o segredo é bem simples mesmo, chama-se: CUIDADO, nada mais que isso, nosso Fusca ( bem como todos os carros do meu pai ) nunca ficaram expostos ao tempo, ao sol durante o dia ou ao sereno durante a noite, cansei de fazer quilômetros a pé na rua do nosso trabalho para mudar o Fusca de uma árvore a outra para que ele não tomasse sol, caso contrario e segundo meu sábio pai toda a forração estaria comprometida, assim como muitos carros novos por aí que eu vejo diariamente sob esse sol violento de Verão durante todo o dia, carros estes, sejam eles quais forem que eu não queria nem de graça ( puxei meu pai ), entre outros pequenos cuidados como, nunca lavar o motor com água e sim mantê-lo limpo com estopa, nunca baixar o vidro até o extremo, nunca bater as portas, nunca fumar ou comer dentro do carro seja lá o que for ( pelo menos não o que use a boca... ), nunca usar luzes ou setas sem necessidade, enfim, nunca " forçar " o carro, apenas deixá-lo te conduzir de acordo com as possibilidades dele, ter paciência com ele, dentre outras dezenas de cuidados que deveriam ser tomados mas que nem todos conhecem, até porque ninguém teve o privilégio de ter o pai que eu tive, tão único quanto a minha ou a sua impressão digital, e tão sábio e caprichoso quanto só ele próprio, desconheço um igual, tanto um pai quanto um Fusca...
No mais, é um prazer indescritível dirigir um Fusca como o Napoleão, ou melhor, como o Mark, que é apenas um pedacinho da minha " herança " e que carrega dentro de sua " mala " toda a minha história, a história dos meus pais, a história da minha família ( que aos poucos eu vou desvendando ) e de todos que hoje o vêm na rua e correm ao encontro dizendo assim:
" Esse é o Fusca do Jurandir, nossa, tive a impressão de ter visto ele chegando agora nesse Fusca como a alguns anos atrás...".
Enfim, em cada estacionada uma " rodinha ", em cada " rodinha " dezenas de perguntas e questionamentos.
Uma pena mesmo eu não ter um pouco mais de tempo ( devido á correria do dia a dia ) para desfrutar um pouco mais ou melhor de tudo isso...!
Falar sobre Fusca é arriscar escrever um livro, vou para por aqui. Ah, dedico este texto primeiramente ao " autor da novela ", o meu pai que está no céu lendo ou me ditando cada linha que escrevi ( minha tribuna só existe por você meu pai... ), dedico também a quem me apoiou na ideia de fazer o " velho Napoleão " se transformar no " Moderníssimo Mark " e voltar ás ruas. E não poderia deixar de dedicar a todos os " apaixonados por Fuscas ", ou, como conhecemos por aqui " os fusqueiros ", enfim, a estes deixo meu texto feito com carinho e os reverencio hoje pela passagem do DIA DO FUSCA...!
p.s. No meu caso em específico, partimos rumo aos 75 anos agora, não posso garantir que seja eu o piloto, mas caso não seja, minha filha há de ser...
" O coração é como motor de Fusca, um dia vai dar defeito, mas mesmo assim o dono não troca.".

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