quinta-feira, 24 de janeiro de 2019

TODO FILHO É PAI DA MORTE DO SEU PAI...!


TODO FILHO É PAI DA MORTE DO SEU PAI...!


( H / A / R.P / 005/2019 ),

Registro 25/01/2019 - Aniversário de 81 anos do meu pai.

Dedico este texto ( que tomo a liberdade de adaptar... ) ao ( sempre... ) aniversariante deste dia, ao meu pai, meu companheiro de toda uma vida aqui na terra, sim, lembro dos oito anos de idade em diante apenas, mas era com ele que eu acordava, era com ele que eu trabalhava, era com ele que eu almoçava, era para ele que eu dirigia, era com ele que eu tornava ao trabalho, era ele que eu levava descansar às 16:00 ( ele começava ás 5:30 da manhã... ), era dele o " olááááá... " quando chegávamos todos do trabalho, era ele meu parceiro de " mexer na grama ", era com ele que eu jantava, era ele meu companheiro de assistir até a noite terminar, era dele o abraço de boa noite seguido de um beijo na testa e três tapinhas atrás da cabeça, enfim, era dele as batidinhas na porta do meu quarto logo cedinho ( com as unhas para não me assustar... ) e para começar tudo outra vez...

E assim foi por bons tempos, desde o que eu entendia como início, até o que os leigos entendem como " fim "...

Ele partiu, mas deixou além de lembranças, uma sementinha sua, ou seja, alguém que acorda comigo, trabalha comigo, almoça comigo, que dirige minha vida, que torna ao trabalho comigo, que descansa comigo, que diz " oi " a cada um que chega do trabalho, que é meu parceiro para " mexer na grama ", que janta comigo, que assiste comigo até a noite terminar, que me dá aquele abraço de boa noite seguido de um beijo na testa e três tapinhas atrás da cabeça, enfim, que me me acorda sem batidinhas com as unhas na porta do meu quarto, mas sempre com um sorriso no rosto, com um prato de maçãs cortadas e com a roupa que eu vou vestir em mãos, para começar tudo outra vez assim como já foi um dia...

O Jeday é impressionante, mesmo aqui sempre presente, ele, tal qual meu pai hoje, não é deste mundo, ele tem o cheiro do meu pai, o gosto e os gostos do meu pai, os gestos e o carinho do meu pai, se emociona igualzinho ao meu pai, é amoroso, característica principal do meu pai, ou seja, ele, mais que eu, tem o DNA do meu pai, até a " cruzadinha de pernas " no banco do carona quando vamos ao trabalho é idêntica.

Bem, ao texto...

" Feliz do filho que é pai de seu pai antes da morte, e triste do filho que aparece somente no enterro e não se despede um pouco por dia.".

Há uma quebra na história familiar onde as idades se acumulam e se sobrepõem e a ordem natural não tem sentido: É quando o filho se torna pai de seu pai. É quando o pai envelhece e começa a trotear como se estivesse dentro de uma névoa. Lento, devagar, impreciso.

É quando aquele pai que segurava com força nossa mão já não tem como se levantar sozinho.

É quando aquele pai, outrora firme e intransponível, enfraquece de vez e demora o dobro da respiração para sair de seu lugar.

É quando aquele pai, que antigamente mandava e ordenava, hoje só suspira, só geme, só procura onde é a porta e onde é a janela, tudo é corredor, tudo é longe.

É quando aquele pai, antes disposto e trabalhador, fracassa ao tirar sua própria roupa e não lembrará de seus remédios.

E nós, como filhos, não faremos outra coisa senão trocar de papel e aceitar que somos responsáveis por aquela vida. Aquela vida que nos gerou depende de nossa vida para morrer em paz.

Todo filho é pai da morte de seu pai. Ou, quem sabe, a velhice do pai e da mãe seja curiosamente nossa última gravidez. Nosso último ensinamento.

Fase para devolver os cuidados que nos foram confiados ao longo de décadas, de retribuir o amor com a amizade da escolta.

E assim como mudamos a casa para atender nossos bebês, tapando tomadas e colocando cercadinhos, vamos alterar a rotina dos móveis para criar os nossos pais. Uma das primeiras transformações acontece no banheiro. Seremos pais de nossos pais na hora de pôr uma barra no box do chuveiro. A barra é emblemática. A barra é simbólica. A barra é inaugurar um cotovelo das águas.

Porque o chuveiro, simples e refrescante, agora é um temporal para os pés idosos de nossos protetores. Não podemos abandoná-los em nenhum momento, inventaremos nossos braços nas paredes. A casa de quem cuida dos pais tem braços dos filhos pelas paredes. Nossos braços estarão espalhados, sob a forma de corrimões.

Pois envelhecer é andar de mãos dadas com os objetos, envelhecer é subir escada mesmo sem degraus. Seremos estranhos em nossa residência.

Observaremos cada detalhe com pavor e desconhecimento, com dúvida e preocupação. Seremos arquitetos, decoradores, engenheiros frustrados.

Como não previmos que os pais adoecem e precisariam da gente? Nos arrependeremos dos sofás, das estátuas e do acesso caracol, nos arrependeremos de cada obstáculo e tapete.

E feliz do filho que é pai de seu pai antes da morte, e triste do filho que aparece somente no enterro e não se despede um pouco por dia.

Meu amigo José Klein acompanhou o pai até seus derradeiros minutos. No hospital, a enfermeira fazia a manobra da cama para a maca, buscando repor os lençóis, quando Zé gritou de sua cadeira:

- Deixa que eu ajudo.

Reuniu suas forças e pegou pela primeira vez seu pai no colo.
Colocou o rosto de seu pai contra seu peito.
Ajeitou em seus ombros o pai consumido pelo câncer: Pequeno, enrugado, frágil, tremendo.

Ficou segurando um bom tempo, um tempo equivalente à sua infância, um tempo equivalente à sua adolescência, um bom tempo, um tempo interminável.

Embalou o pai de um lado para o outro.
Aninhou o pai.
Acalmou o pai.
E apenas dizia, sussurrado:

- Estou aqui, estou aqui, pai!

O que um pai quer apenas ouvir no fim de sua vida é que seu filho está ali...!.".

( Fabrício Carpinejar ).

Então meu pai, se eu não fui nada na vida, pelo menos não nada do que você projetou para mim e para meu futuro ( estudos, profissão e etc... ), desculpa, entendo que errei e sempre admiti isso, mas permita-me dizer, baseado nem tão somente neste texto acima, mas em nossa experiência juntos aqui nessa existência, é com orgulho absoluto que eu digo: " EU FUI PAI DA MORTE DO MEU PAI...!.".

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