terça-feira, 4 de outubro de 2016

A " IMPRATICÁVEL " FERROVIA CURITIBA - PARANAGUÁ.

A " IMPRATICÁVEL " FERROVIA CURITIBA - PARANAGUÁ.

( ponto de vista / pesquisa / assunto sugerido ),
" A vida é o trem, não a estação ".
Ontem vi uma postagem em um perfil de uma amiga do Facebook sobre o assunto e logo " viajei " de volta para lá há alguns anos atrás. Que lugar maravilhoso e porque não dizer indescritível, bem como as sensações que o passeio nos proporciona, principalmente quando você tem a oportunidade de " dar uma fugidinha " ás regras e passar pelo Viaduto Carvalho ( por exemplo ), viajando na plataforma do trem ( proibido ) e olhado para fora, sentindo sob seus pés apenas um " buraco " ( imagina-se alguns mil metros de altura ) e sem enxergar os trilhos, como se estivesse voando, só vendo o " penhasco " á sua frente ( ou embaixo ) e sentindo aquela proteção também indescritível que só meu pai conseguia me proporcionar. Bem, vamos lá à pesquisa, embarque aí ( liga o som https://www.youtube.com/watch?v=-6oj0iy1JKs ) e bom passeio...
A Estrada de Ferro Curitiba-Paranaguá, criada em 1880, é hoje uma das mais famosas do Brasil. Construída sobre a Serra do Mar, teve de vencer grandiosos obstáculos do relevo que pareciam ser impossíveis de se realizar para construção de sua linha férrea.
Seu primeiro trecho foi inaugurado em 1883 e já em 1885 estava concluída, sendo então, a primeira ferrovia do Estado do Paraná. Mais tarde continuou se expandindo até 1892 quando alcançou o porto de Antonina.
A linha ainda hoje, em seus 110 quilômetros de extensão que descem os 900 metros da serra, guarda alguns trechos originais daquele tempo, o que perpetua a comprovação do arrojado projeto do século passado. Você já se imaginou passando por um túnel bem no meio de uma enorme serra? Não? Então você precisa fazer essa viagem.
Para fazer o passeio de Curitiba até Paranaguá, nosso ponto de partida é a Estação Ferroviária de Curitiba, onde a empresa Serra Verde Express administra os passeios do trem e garante um ótimo serviço de bordo
Nos primeiros 22 quilômetros de trilhos, o trem atravessa dois municípios muito bonitos da região metropolitana de Curitiba. Trata-se de Pinhais e Piraquara. Logo depois, em mais alguns minutos de passeio, chega-se até o Túnel de Roça Nova, o primeiro de outros 13 túneis que se encontram no percurso e atravessam a maciça rocha da grandiosa serra. Com 457 metros, o Roça Nova, é o maior deles e se localiza no ponto mais elevado do trajeto.
Logo em seguida, a linha segue em direção à Casa Ipiranga, que serviu de meio de hospedagem para figuras ilustres da nossa história. O Imperador Dom Pedro II, o então presidente da Província do Paraná Carlos de Carvalho, sem esquecer, é claro, do famoso pintor paranaense Alfredo Andersen. Ah, aproveite para observar a passagem do Rio Ipiranga que corta toda essa área dando um charme especial à construção.
O melhor mesmo ainda está por vir. Mais à frente, os passageiros irão se deparar com a cachoeira Véu da Noiva, enorme, com grande volume de água saindo da rocha e que consegue produzir um som mais alto do que o da locomotiva.
Bem perto dali, antes de se chegar ao décimo primeiro túnel, se encontra o imponente Pico do Diabo, enorme rochedo com uma fenda entre duas escarpas, dando a sensação de que a qualquer momento tudo aquilo irá se desprender da serra.
Na parada que o trem faz, na Estação de Marumbi, será possível tirar belas fotos da natureza que compõe o Parque Nacional do Pico do Marumbi, criado em 1990, com mais de 2300 hectares. Sem precisar andar muito você poderá conhecer o Morro do Leão e também o Pico Marumbi, ambos altíssimos e frequentados por alpinistas.
Após continuar o trajeto, a próxima parada é na Estação de Morretes, cidade histórica onde o passageiro pode aproveitar para comprar lembranças do artesanato local. O souvenir mais procurado é uma miniatura da Serra do Mar. Não deixe também de experimentar o " barreado ", prato típico do litoral do Paraná, além de levar os doces feitos na região. Para quem se interessa pelo assunto, a qualidade da aguardente ( pinga, cachaça ) produzida na cidade é reconhecida em todo o Estado.
Feita a visita em Morretes, é hora de percorrer os últimos 41 quilômetros do passeio até chegar à cidadezinha de Paranaguá. Com seus 349 anos, a cidade não só é a mais antiga do Paraná, como abriga o porto de maior movimento em toda a região sul do país. Motivo de sobra para um passeio na Rua General Carneiro, onde se encontra a Igreja Matriz e o Museu de Arqueologia e Etnologia.
A estrada de ferro que liga Curitiba a Paranaguá é considerada a maior obra da engenharia férrea nacional e uma das mais ousadas do mundo.
A construção da ferrovia começou oficialmente em Fevereiro de 1880. Considerada impraticável por inúmeros engenheiros europeus na época, a obra teve início em três frentes simultâneas: Entre Paranaguá e Morretes ( 42 km ), entre Morretes e Roça Nova ( 38 km ) e entre Roça Nova e Curitiba ( 30 km ).
Para a obra, foram recrutados mais de 9.000 homens, que ganhavam entre dois e três mil réis por jornada. A maioria deles vivia em Curitiba ou no litoral, e era composta de imigrantes que trabalhavam na lavoura. Mais da metade desses homens faleceu durante a construção da ferrovia, frente às condições precárias de segurança.
O sonho dos irmãos Rebouças:
A ideia da construção da estrada de ferro coube ao irmão de Antonio Rebouças, André Rebouças. Em Janeiro de 1865, André observara que Assunção no Paraguai e Antonina ficavam no mesmo paralelo e entusiasmado lançou a ideia de ir com o irmão Antonio, abrir uma estrada de ferro.
O sonho dos irmãos Rebouças permaneceu latente até que em Janeiro de 1871 em audiência especial com o Imperador D. Pedro II, os irmãos apresentaram o projeto. O imperador autorizou a construir o “ Caminho de Ferro de Antonina a Curitiba ”.
Antes do início das obras da ferrovia, Antonio Rebouças foi para São Paulo, onde veio a falecer em 1874. O que a princípio era apenas um sonho de dois jovens engenheiros, foi concretizado, embora Antonio, o autor do projeto, não tenha vivido o suficiente para ver a obra realizada.
As autoridades técnicas da época achacavam que a obra jamais poderia ser concluída. Prova disso foi o construtor inicial Giusepe Ferrucini ( de uma construtora inglesa ) que desistiu da obra ainda no quilômetro 45, ao nível do mar, considerando-a impossível.
Pelo Decreto Imperial n.º 5.462, de 12 de Novembro de 1873, foram aprovados os planos das obras da estrada de ferro Paranaguá-Morretes, com isso a estrada de ferro interligou Paranaguá a Curitiba, passando por Antonina e Morretes. Esta foi uma luta liderada por políticos parnanguaras que conseguiram após muitos contatos com o Ministério da Agricultura, Comércio e Obras Públicas, que a estrada de ferro tivesse seu prolongamento até Paranaguá.
Embora a concessão Rebouças tivesse com o prazo esgotado, destaca-se o trabalho político do deputado Manuel Eufrásio Correia e de Manuel Antônio Guimarães para fazer prevalecer o porto de Paranaguá. Com isso o marco zero da estrada de ferro inicia em Paranaguá, alterando a história e os planos dos irmãos Rebouças.
Conclusão da obra:
Coube ao engenheiro Teixeira Soares, com apenas 33 anos, seguir firme em sua convicção de que o sonho dos irmãos Rebouças poderia ser realizado.
Depois de cinco anos de construção, aquele projeto visto como impraticável por engenheiros europeus, foi finalmente finalizado.
Dos nove mil homens que participavam da empreitada, cerca de cinco mil vieram a falecer devido às doenças típicas da floresta e outros perigos que enfrentaram. Foram utilizados trabalhadores de origem alemã, polonesa, italiana, africana ( centenas de escravos alforriados ).
Pontes do mais puro aço foram importadas da Inglaterra e cuidadosamente montadas no local.
A natureza foi preservada em todo o percurso. Paredões foram abertos para dar passagem ao progresso por mãos hábeis de milhares de trabalhadores.
A estrada foi considerada concluída e inaugurada no dia 2 de Fevereiro de 1885, e as primeiras locomotivas a vapor começaram a correr pelos trilhos da ferrovia.
Primeira Viagem:
O esforço e ousadia de trabalhadores braçais, engenheiros e outros profissionais resultou numa das mais ousadas obras da engenharia férrea mundial.
Participaram da primeira viagem engenheiros, autoridades, jornalistas e convidados. A viagem entre Paranaguá e Curitiba durou nove horas: Ao chegar à Capital, mais de 5.000 pessoas aguardavam o trem. A estrada é a comprovação do poder imaginativo de Antônio Rebouças, concluída graças ao espírito ousado do engenheiro Teixeira Soares.
" Paredões foram abertos para dar passagem ao progresso ".
Barão do Serro Azul ( curiosidade ):
" Os seus atos foram banidos da história oficial do estado do Paraná, documentos foram arrancados, referências apagadas, e qualquer discussão sobre a execução sumária dele e seus companheiros era evitada. A sua magnífica mansão em Curitiba foi transformada em quartel do Exército, tendo a baronesa e os seus filhos que morar em um anexo
Foi preciso esperar 114 anos para que o país finalmente conseguisse reconhecer um homem que deu a vida para proteger Curitiba: Em Dezembro do ano passado ( ... ), o fazendeiro e político Ildefonso Pereira Correia, o barão do Serro Azul, teve seu nome incluído no Livro de Aço dos Heróis Nacionais, do Panteão da Pátria Tancredo Neves, em Brasília. A indicação do nome do barão partiu do senador Osmar Dias ( PDT-PR ). “ É preciso fazer justiça com a história brasileira. Era necessário corrigir um erro do passado, porque o barão foi tido, por cerca de 40 anos, como traidor. Se não fosse ele, Curitiba teria passado pela Revolução Federalista com um saldo de mortes muito grande ”, explicou o senador.
A injustiça está marcada, até hoje, com uma cruz no quilômetro 65 da Serra do Mar, na estrada de ferro que liga Curitiba a Paranaguá. Foi nesse local que o barão do Serro Azul e mais cinco companheiros foram fuzilados pelo Exército de Marechal Floriano Peixoto, os conhecidos pica-paus. Para entender o que aconteceu, é preciso voltar a 1893, quando os revoltosos do Rio Grande do Sul, conhecidos como maragatos, decidiram invadir o Paraná levantando a bandeira pela República e pela derrubada do presidente Marechal Floriano do poder.
Disputas econômicas, entraves burocráticos, ingerências políticas e escassez de dinheiro estatal são motivos cada vez mais comuns para justificar o atraso de qualquer obra pública atualmente no país. Engraçado imaginar que quase um século e meio atrás o projeto de uma das construções ferroviárias mais importantes do Brasil imperial quase não saiu do papel por razões muito semelhantes.".
De volta ao passeio pela construção da obra:
Então, inaugurada no dia 02 de Fevereiro de 1885, portanto, há exatos 130 anos, a ferrovia Paranaguá-Curitiba deve sua existência às manobras políticas do governo imperial, que driblou interesses divergentes e a falta de recursos para destravar a ligação definitiva entre a capital e o Litoral da então província do Paraná. Foram quinze anos de espera até que as primeiras " marias-fumaças " dessem o ar da graça.
A hoje centenária estrada de ferro continua sendo uma referência por sua engenharia ousada, importância econômica e pela beleza de suas estruturas, que rasgam a Serra do Mar por meio de túneis abertos no coração da rocha, pontes que parecem flutuar no vazio e curvas sobre penhascos que desafiam os espíritos mais corajosos.
Em 1870, o Império recebeu um pedido de concessão para a construção de uma ferrovia que ligasse o Litoral ao planalto curitibano. Francisco Monteiro Tourinho, Antonio Pereira Rebouças Filho e Maurício Schwartz, que tinham construído a Estrada da Graciosa, eram os responsáveis pela solicitação da concessão. A ideia era que a linha partisse de Antonina rumo à capital da província. O decreto de 10 de Janeiro de 1871 deferiu o pedido de concessão.
Mas, a decisão acirrou os ânimos de outra importante cidade litorânea. Paranaguá não aceitava a decisão. O Visconde de Nacar e a família Correia, influentes politicamente, desejavam que o quilômetro zero estivesse em terras parnanguaras.
A pressão política não tardaria a surtir efeito. Os embates e disputas entre as cidades, a província e a Corte se arrastaram por quase quatro anos, até que um decreto imperial de 1.º de Maio de 1875 pôs fim à discussão: O trem partiria de Paranaguá. O argumento utilizado para renegar Antonina foi a profundidade de sua baía, que não comportaria navios de grande porte.
Quando tudo parecia pronto para que as obras finalmente andassem, o recurso financeiro pesou contra. Vale destacar que o orçamento do governo imperial estava comprometido devido à participação do Brasil na Guerra do Paraguai. A conclusão do Império foi que os capitais nacionais seriam insuficientes.
A Corte solicitou uma nova análise do traçado, que havia sido feita por Antonio Rebouças. A ideia era verificar outra opção que fosse mais negociável com empresas estrangeiras.
Em 1877 foi aprovado um novo traçado baseado nos originais de Rebouças e com adaptações dos engenheiros Rodolpho Alexandre Helh e Luiz da Rocha Dias.
Passados dois anos, em 12 de Agosto de 1879 foi autorizada a transferência da concessão para a Compagnie Générale de Chemins de Fer Brésiliens, de capital francês. Por não ser da área de engenharia, ela contratou uma empresa especializada, a belga Societé Anonyme des Travaux Dyle et Bacalan.
Somente em 05 de Junho de 1880, Dom Pedro II lançou, em Paranaguá, a pedra fundamental da construção, mas as obras estavam em andamento desde 20 de Janeiro. Após tantas idas e vindas, não tinha escapatória: Uma ferrovia ia unir o Litoral ao planalto.
Para isso, outros desafios tiveram de ser superados, principalmente os sete quilômetros entre os rios Itupava e Ipiranga, que costeavam os paredões íngremes dos conjuntos Marumbi e Cadeado. Ao longo do trecho da Serra do Mar, ao menos três obras merecem destaque: O Túnel de Roça Nova, o Viaduto do Carvalho e a Ponte São João.
“ Quando já ia muito adiantado escorregou todo inteiro, ficando perdida a obra, recorrendo os engenheiros a um túnel para não passarem mais pelo interior da rocha. Alguns desses escorregamentos levaram consigo os trabalhadores e deles mal se encontrava às vezes um fragmento.
Uma enchente descomunal no Rio São João carregou enorme massa de madeira que se tinha acumulado no estreito vale para se construírem os andaimes do grande viaduto. Em poucas horas desapareceu o valor superior a 40 contos e nem pau para lenha se aproveitou.”. ( Barão de Capanema, engenheiro, Agosto de 1884 ).
O material para a construção da ferrovia chegava pelo Porto de D. Pedro II, vagões transportavam esse material até próximo dos canteiros de obra. O pesquisador Edilberto Trevisan comentou que antes da construção foram abertos cerca de 81 km de caminhos ligando as frentes de trabalho. Na área da Serra do Mar, os materiais e mantimentos chegavam aos canteiros de obra pelo antigo caminho do Itupava que partia da Vila de Porto de Cima.
Era 28 de Outubro de 1884 quando o trem chegou pela primeira vez na estação de Piraquara. Passado cerca de um mês, quem veria da janela a mesma estação seria a Princesa Isabel, rumo à Curitiba. Como a ferrovia ainda não estava finalizada, ela desceu na região do bairro Cajuru e seguiu a viagem de carruagem.
Uma comitiva de ministros da Corte desembarcou do navio em Paranaguá por volta das 9 horas do dia 02 de Fevereiro. Uma hora depois, o trem partia de Paranaguá rumo à capital. Na Serra do Cadeado, a composição parou na sede da Comissão Construtora, onde foi servido um almoço.
Enfim, a Estrada de Ferro Curitiba/Paranaguá, literalmente é lugar mágico e que te remete tanto para o passado quanto para dentro de si mesmo, a minha experiência tanto na viagem como um todo, quanto no Viaduto Carvalho está viva até hoje dentro de mim ( sempre que lembro sinto um misto de medo com proteção ).
E ainda hoje, é um lugar muito procurado, justamente por ser um lugar maravilhoso, desde a estrada de ferro até as suas belezas naturais, quem ainda não conhece, não sabe mesmo o que está perdendo, e quem puder que vá conhecer, com certeza irá sair de lá com um " aprendizado novo ", e sentindo-se muito bem, eu mesmo, depois de ter visto tal postagem no perfil de Facebook de uma amiga, já comecei a tecer planos para um retorno a " esta viagem " dentro em breve.
" É possível viajar até o ponto mais distante da terra. Conhecer lugares mais bonitos. Contemplar pontes, postes, viadutos, túneis, estátuas e pedras de diversos formatos. Cachoeiras, rios e mares. Conhecer pessoas de diversas culturas estrangeiras. Saborear histórias, crenças... ( ... ).". - Wal Águia Esteves.
Separamos 3 vídeos ( seguem os links ) para que todos possam ao menos ter uma ideia da veracidade da nossa " empolgação " em relação á minha experiência e á nossa pesquisa, confira aí e se imagine lá, recebendo toda aquela energia positiva ( matas, cachoeiras e etc ), é um fato que saímos de lá com a alma lavada e com as energias renovadas...!
1 - Estrada de Ferro Curitiba-Paranaguá,
https://www.youtube.com/watch?v=jCqTokDjZqQ
2 - Viaduto Carvalho, é exatamente aqui que, se você olhar para baixo concluíra que " perdeu o chão ",
https://www.youtube.com/watch?v=LWAmfkRj3Qs
3 - Descida da Serra do Mar: Ferrovia Paranaguá Curitiba,
https://www.youtube.com/watch?v=Et5oT1_JhRE
" NOSSA VIDA É UMA CONSTANTE VIAGEM, DO NASCIMENTO Á MORTE. A PAISAGEM MUDA, AS PESSOAS MUDAM, AS NECESSIDADES SE TRANSFORMAM, MAS O TREM SEGUE ADIANTE. A VIDA É O TREM, NÃO A ESTAÇÃO...". - Paulo Coelho.

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