ALGUNS PASSOS COM SEU PAI...!

ALGUNS PASSOS COM SEU PAI...!

( re-post / 65-2016 ),

Conversando com meu amigo, com meu " cúmplice " ( principalmente em se tratando de tribuna ), entramos no assunto sem querer, e ele me contava sobre como foi difícil para o seu pai estudar, pois seu pai tinha que caminhar muitos quilômetros ( mais de 10 ) a pé e diariamente, sair de casa ( antiga Estação Experimental ) ás Cinco horas da manhã em direção á cidade ( Colégio Marista Aurora ), fizesse chuva ou sol, estava lá o seu Jurandir, indo sempre á caminho da escola, e muito feliz e valorizando a oportunidade que tinha, uma bolsa parcial que não permitia faltas e tampouco notas baixas.

Me dizia ele que ouviu diversas vezes essa história, centenas de vezes e do próprio seu Jurandir, e que só agora percorrendo ( de carro ) tal caminho, parou e refletiu. Ele descobriu de verdade o quanto era verídica a história, o quanto seu pai sofria, com dor nos pés, correndo riscos e de certo passando medos, porém sem nunca reclamar, aguardando uma vez por semana ( enquanto caminhava ) um caminhoneiro amigo que passava e lhe dava uma carona, o qual ele ouvia de longe e sorria sozinho, pois a hora em que ele saia ainda se fazia noite. Mas, com muita determinação, ele fazia todo esse esforço, pois via além daqueles dias ruins, ele via sua vitória logo mais ali, alguns quilômetros á frente.

E isso é o que o motivava a repetir dia a dia sua caminhada, sua vontade por estudar era maior que seus problemas diários, mas todo esse " sacrifício " ele fazia pensando em seu futuro, cada passo dado era uma vitória, assim como cada atitude, cada palavra, afinal, depois de muita luta aquele garoto que em dias de frio usava o casaco de sua mãe recebeu a recompensa e dividiu com os seus pais, o seu maior troféu, se formou professor e posteriormente um advogado muito responsável, competente, honesto, querido e respeitado, pois ele soube dar valor a oportunidade que teve de estudar, e soube também dar valor ás oportunidades que nunca teve, e depois de muita dificuldade, de dias em que chegou até pensar em desistir ( mas nunca o fez ) pois a dedicação e a garra o dominavam.

Seu Jurandir tornou-se um exemplo de pessoa, amável, amigo, admirável e com uma ampla visão de futuro próspero, " aguentou " muitas situações adversas e firme, e fez da sua determinação a realização de seus sonhos e objetivos, afinal, o seu objetivo pessoal foi alcançado e com muito sucesso, e ele não conseguiu isso assim " do dia pra noite " não, ele foi buscar o que queria através das estradas empoeiradas, escuras e na época desertas da Estação Experimental, e não devia pensar só em si não, queria deixar um conforto para a família e os filhos que viriam um dia. Apesar de todas as dificuldades que este homem enfrentou, a força de vontade e o amor á família venceu.

Ele nunca desistiu, continuou firme e forte, e pensando nisso percebo como a vida é irônica, nos " prega peças " ou nós " pregamos peças " na vida, a vida as vezes " dá asas para quem não ' quer ' voar ".

E analisando também a questão, vemos filhos que têm " tudo de mão beijada ", e este com quem conversei hoje se declarou um, vão para escola de carro e daí " gazeiam " a aula, ganham tudo o que querem, inclusive " casa, comida, roupa lavada e uma poupuda mesada ", e acabam nem se preocupando com o futuro ( que vem com certeza ), pois pensam que os pais irão viver eternamente.

Me pergunto o porquê da vida ser tão " injusta " com alguns, enquanto com outros ela é tão " generosa "...

Seu Jurandir, mesmo sem conhecê-lo pessoalmente, apenas através de um simples diálogo ( o primeiro nosso, meu e do seu filho extra tribuna ), concluí que o senhor é um grande exemplo de humildade, de dedicação, e eu, espero de coração que alguém leia esse texto e se pergunte, será que eu estou fazendo o esforço necessário para ter uma vida melhor? Ou para ser uma pessoa melhor? E tanto os pais quanto os filhos(as).

Você demostrou para nós, e para seu filho que me narrou sua história hoje, que só com muito sacrifício, e dando o devido valor ao que temos conquistado é que chegaremos lá, caso contrario, podemos ter tudo ali na nossa frente, e nem saber que perdemos a oportunidade, ou duas delas, ou três ou dez, e o tempo é cruel, ele não volta, portanto, lute pelos seus objetivos, assim como fez o seu Jurandir.

Ele no escritório comprava bicicletas novas todo ano para que os seus funcionários a usassem para entregar intimações, ele dizia que comprava bicicletas e chegou a ter cinco novinhas, uma em cada escritório ) porque nunca teve a oportunidade de ter uma delas para fazer seu árduo caminho, então, imaginem o quanto seu Jurandir teve que batalhar, a pé lá da estação Experimental ( hoje Epagri ) onde morava, até sua escola, e também me pego a pensar, será que ninguém via essas coisas acontecerem e quem sabe pelo menos dar uma bicicleta para ele amenizar a sua jornada? Pois é, seu pai, pessoa muito humilde, não tinha mesmo condições para isso, me relatou seu filho.

Faculdade? Por seu pai o Javel estaria formado há anos, né Javel? Uma de suas primeiras aquisições, se não me falha a memória, foi um apartamento ao lado da universidade em Florianópolis ( e perto da penitenciária ) presente dele ao filho para que ele cursasse Direito e seguisse sua belíssima carreira, e se tivesse se empenhado tanto quanto o pai ou nem tanto assim, estaria no mínimo formado a há mais de dez anos.
Mas, seguiu a " carreira " errada na adolescência, conheceu antes a penitenciária do que a universidade, porém, teve um pai e uma mãe de verdade, juízo e sorte de poder mudar a tempo o rumo desta, que já é uma outra história...

Javel também lembrou de um dia quando foram em família até a Epagri ( onde anteriormente seu pai morava ) para uma visita de final de semana, e diante de uma casinha simples de lá, seu Jurandir com mais seis irmãos foram " criados ", e relembrou o Javel que quando ele, o seu Jurandir, se deparou com a casinha novamente, o olhar dele parecia ter voltado ao passado, os olhos dele se estalaram na janela alta com os pés esticados, ele parecia estar revivendo todos os momentos bons e nem tão bos assim que passou lá junto dos seus, e lágrimas de emoção escorreram pelos seus olhos.

Enquanto isso, disse o Javel: " Eu ganhei bicicletas de todas as marcas e tamanhos, nunca me faltou absolutamente nada, ganhei motos ( com 12 anos de idade cheguei a ter 3 de uma só vez ), carros novos enquanto meu pai andava por 5 ou 10 anos com o mesmo carro, eu tinha ( e tive ) tudo o que meu pai não teve, mas diferente dele não dei valor, pois eu não entendia sobre o valor, e tampouco um dia tinha entendido sobre o sacrifício de conquistar as coisas, e isso, só aprendi com o tempo e com a falta do meu pai. Eu não estou reclamando, imagine, mas deveria sim ter aproveitado melhor as oportunidades que tive e deixei passar, mas agora entendo como agir e sei exatamente o quanto devo dar valor ás coisas e ás pessoas. Hoje e graças a Deus e ao meu pai tenho meu conforto, mas, ainda prefiro andar a pé do que de carro, até porque já andei muito de carro nessa vida, parece até deboche né? Mas não é. Já o meu pai não abria mão do carro sequer um dia para ir ao trabalho, pois segundo ele próprio ( e é a mais pura verdade ) ele já tinha andado muito a pé na vida...". Vejam só como são as coisas.

" Mas, com este mestre, o maior de todos eles, e só com ele aprendi que a vida é difícil, mas que com dedicação, carinho e cuidando de quem amamos de verdade, a vida se torna muito mais fácil, e nos enche de vontade de prosseguir, assim como meu pai fez e que foi um exemplo para mim, e se me arrependo de não ter seguido vários de seus conselhos? Muito.".

Tenho certeza que antes de dormir, assim como o Javel faz todas as noites, hoje em especial depois da nossa conversa e de ler o meu texto, ele vai agradecer mais uma vez, hoje de uma forma especial, pelas palavras e conselhos do seu Jurandir dirigidas a ele, e pelos conselhos que ele sempre fez questão de dar, e que ele lá, o Javel de outrora, não fez toda questão do mundo em seguir.

Terminei ouvindo do Javel sobre seu atual legado, ao qual se dedica ininterruptamente, retribuir ao seu pai ( ou seus pais ) tudo o que ganhou ( e o que desperdiçou ) em forma de cuidados, carinho e amor a seu irmão Jeday, pois ouvi de Javel ( e sei disso ) que seu irmão é sua vida, seu tudo, assim como era a vida e o tudo de seus pais, e percebo o quanto o Jeday é importante na vida dele, este que, lá no fundinho, ainda foi o maior " tesouro " que o seu Jurandir, junto com sua mãe, colocou no mundo e podia ter deixado a você, Javel...!

" E quando você pensar em desistir, lembre-se dos motivos que te fizeram aguentar até aqui...".

Com carinho, Lu,